A Reforma Protestante
Nesta semana, quando comemoramos 490 anos da Reforma Protestante, cabe-nos refletir o significado deste movimento, suas ênfases teológicas e seus desafios para a Igreja de hoje.
O movimento da Reforma Protestante foi sem dúvida nenhuma um dos maiores, ou o maior e mais significativo movimento na história da Igreja, após o advento da própria igreja registrado no livro de Atos dos Apóstolos. Seu significado e expressão vão além dos efeitos e mudanças religiosas operadas ou surgidas no século 16. A reforma protestante, ainda que na sua essência tenha sido um movimento de reforma religiosa, que teve seu apogeu em Martinho Lutero, na Alemanha, no ano de 1517, e que mais tarde teve seus ideais enfatizados e ampliados em vários países do continente europeu, chegando a Suíça mediante Ulrico Zuínglio, na França por meio de João Calvino, e a Escócia por influência de João Knox, desencadeou reformas políticas, sociais e econômicas de dimensão extraordinária. A Reforma Protestante foi ao mesmo tempo reavivamento e revolução.
A partir do movimento da Reforma Protestante, desencadeou-se uma série de mudanças na eclesiologia e estrutura da Igreja. Simbolizou um avanço significativo na teologia da época, na forma de ver o texto bíblico, na liturgia e no governo eclesiástico que deixa de ser algo mediado pela figura papal e passa ser aberto, democrático e sob a inspiração do Espírito Santo. Foi, sem dúvida, o grande precursor da liberdade religiosa atual e o retorno do cristianismo às suas fontes: às Escrituras.
Dentre as várias ênfases teológicas da Reforma Protestante, destacamos as "5 Solas": Sola Scriptura (somente a Bíblia), Sola Fide (somente a Fé), Sola Gratia (somente a Graça), Solus Christhus (somente Cristo) e Soli Deo Gloria (Glória somente a Deus). Estas ênfases significaram e resultaram em mudanças profundas na teologia ensinada e pregada na igreja da época. A afirmação protestante, Sola Scriptura, gerou um retorno à Bíblia e às práticas dos evangelhos. Nesta afirmação, percebe-se um repúdio aos ensinos resultantes de uma teologia descentralizada da Bíblia, e esvaziada de conteúdo dos ensinamentos de Cristo, que era a teologia pregada e enfatizada pela igreja romana. Para nós as Sagradas Escrituras contêm tudo que é necessário para a salvação, de maneira que o que nelas não se encontram, nem por elas se possa provar, não se deve exigir de pessoa alguma para ser crido como um artigo de fé, nem se deve julgar necessário para salvação. Este retorno as Sagradas Escrituras, imediatamente significou um retorno a uma teologia Cristocêntrica, onde a figura de Cristo é central. A pregação e a doutrina voltam-se para os Evangelhos e ensinos do próprio Cristo. A Reforma Protestante enfatizou, como já afirmamos, a salvação somente pela fé, acabando e deixando de lado a teologia romana que enfatiza a salvação pelas obras. Além das ênfases mencionadas, poderíamos ainda destacar a doutrina do sacerdócio universal de todos os crente, a separação entre Igreja e Estado, como dois poderes distintos, e a importante ênfase na liberdade de expressão dos indivíduos. Vale ressaltar aqui que os Batistas são anteriores a reforma e já viviam e pregavam esses ideais.
Analisando os 490 anos do advento da reforma protestante, suas ênfases teológicas, e suas propostas, percebemos o quando a Igreja Evangélica Brasileira precisa regressar aos princípios da reforma. O princípio que ressalta as Sagradas Escrituras como única regra de fé e prática dos cristãos, e sua suficiência para salvação, lamentavelmente não é tão visível quanto se pensa na atual prática religiosa de muitas igrejas evangélicas. Vivemos uma ênfase exagerada no sacrifício pessoal para obtenção de bênçãos e privilégios espirituais. Em algumas igrejas, a salvação é vendida, pois afirmam que para se obter algum favor espiritual, o fiel deverá depositar grandes somas de dinheiro no altar. Caso contrário, Deus não atenderá seus pedidos. Isto resulta numa "salvação" que é adquirida mediante as obras e comprada pelas indulgências. De fato, uma nova reforma se faz urgente.
A pureza bíblica enfatizada pelos reformadores deu lugar a um evangelho eclético e sincretista, que incorporou expressões e ensinos heréticos, antibíblicos e de outras religiões. Percebemos no meio evangélico pregações e práticas que nem de longe refletem qualquer ensino bíblico, muito pelo contrário, são condenados na Bíblia. Isto é facilmente detectável nos ensinos e pregações proferidas em vários púlpitos de igrejas evangélicas. Por exemplo, ouvimos com facilidade expressões tais como: ato profético, unção do riso, determinar a benção, tomar posse da benção, encostos, banhos de purificação, reunião da mesa branca, etc. Ainda podemos citar os "videntes evangélicos", "profetas" que cobram consultas espirituais, resultado pseudamente de "revelações do céu", e grupos que realizam encontros, retiros e proíbem contar o que ocorreu, uma prática muito próxima do esoterismo. Muitas dessas pessoas são membros de importantes e conceituadas igrejas evangélicas, desfrutando de prestígio e liderança nessas denominações.
Ainda que não vivamos sobre o domínio papal e do magistério da Igreja Romana, que afirma deter o poder da verdadeira interpretação da Bíblia, vivemos sob o domínio de alguns pastores sedentos pelo poder, que em conseqüência disto, impõem e determinam pesadíssimas regras espirituais e advogam para si o poder da verdadeira interpretação do texto bíblico. São senhores de si mesmos, que não estão dispostos a submeterem-se à graciosa e misericordiosa vontade de Deus.
Concluímos ressaltando a importância da Igreja Evangélica brasileira em rever sua teologia e práticas, tendo como parâmetros os ideais e teologia dos reformadores. Diante do quadro atual em que a Igreja Evangélica se encontra, não resta outra alternativa a não ser um imediato regresso aos princípios salutares da Reforma Protestante. Por isso, reafirmamos o valor e a pertinência da reflexão sobre o significado e atualidade da teologia e prerrogativas oriundas deste movimento reformador que teve seu ápice no dia 31 de outubro de 1517, quando Lutero afixou nas portas da Catedral de Wittemberg suas 95 teses.
Ao término deste artigo pergunto: Será que o nosso modo de crer, viver e agir, refletem os ideais dos reformadores sintetizados nas 5 Solas: Somente a Bíblia, Somente a Fé, Somente a Graça, Somente Cristo e Glória somente a Deus?
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