segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Sociedade do espetáculo

No mundo antigo havia poucas oportunidades para o espetáculo. Havia o teatro, havia celebrações das efemérides dos nobres, os jogos locais - os jogos olímpicos eram o destaque maior - e os espetáculos religiosos. Com exceção dos religiosos, que eram promovidos pelo conluio Religião x Estado, os demais eram promovidos pelo Estado.

No mundo contemporâneo, os espetáculos são proporcionados todos os dias e a toda hora. A televisão torna tudo espetaculoso: esportes, acidentes, guerras, violência, catástrofes naturais, tudo é espetáculo. O sucesso do espetáculo é que ele gera emoções, e o humano vive em busca de emoções. Gera também lazer e o homem pós-moderno é movido a lazer. Como diz o sociólogo Edigard Morin: "somos a sociedade da lazerificação".

Os segmentos afetados pelos espetáculos são muitos: Economia, Política, Comércio, Turismo, Esporte, Cultura, Artes, e, pasmem, até a Religião! Mas, no contexto da religiosidade, a espiritualidade que deriva dos espetáculos fica altamente prejudicada. Vejam, por exemplo, as expressões que os cultos em algumas igrejas evangélicas provocam: "Que palavra, irmão! Que bênção! Vimos o mover do Espírito!" Todas são referências análogas à expressão: Que espetáculo!

Vamos dar uma olhada nos cultos das igrejas batistas. O visual, o número de participantes (quanto maior mais emocional), a sonoridade (o instrumental é odiado pelos vizinhos dos templos), o relato dos milagres, as palmas para Jesus e um sermão contundente, tudo precisa convergir para espetáculo. Como espetáculo, para ser espetáculo tem de ser grande, viciamo-nos em espetáculos e estes cada vez maiores.
Vai aí uma lancetada profunda. Como num espetáculo temos a participação de artistas e estes geralmente concorrem entre si, muitas igrejas viraram palco de guerra. A comunhão foi trocada por competição, confusão, agressão... Que fazer? Havia isso no Novo Testamento? Não, havia a manifestação divina, não programada. Uma cura aqui, uma prisão aberta ali, no demais, oração, estudo bíblico, compartilhar experiências provenientes dos testemunhos, e isso, nas casas, não em prédios providos de grandes palcos. Ah, ia me esquecendo... havia perseguição e, vez por outra, um lugar ficava vazio, era preciso socorrer a família do mártir. Espetáculos? Não havia lugar para eles, mas havia lugar para Deus na vida deles. Deus e seu agir eram o espetáculo. E que espetáculo!

Manoel de Jesus Thé - Pastor da IB Ebenézer, São Paulo (SP)

www.pilb.t5.com.br

 

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