quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Arranque o Mato

Eu tive um sonho. Sonhei que morava numa casa bonita, num terreno com caída para dentro. Nesse sonho, eu fizera um jardim muito bonito, cheio de rosas, margaridas, hortênsias e cravos. Mas no instante do sonho, tudo o que eu via era um matagal na frente da casa, um terreno abandonado, cheio de mato, com mosquitos, lixo, entulho e muita sujeira. Onde antes era um colírio para os olhos e um perfume para o nariz, agora tornara-se um horrível testemunho de descuido e abandono.

Pensei: "Cadê o meu jardim? Quem plantou esse mato? Eu só plantei flores, por que será que o capim invadiu tudo?" Lembrei-me, no sonho, que dia após dia eu cuidara do jardim com amor e atenção, mas que viajara por uns tempos, e estava chegando em casa. Certamente ninguém zelara, e o resultado era aquele: um desastre!

Então acordei. Pus-me a pensar na cena tão interessante que vira, e Deus conduziu-me à refletir sobre minha vida cristã.

Temos em nós um jardim, plantado pelo Senhor no dia de nossa conversão a Cristo. Deus coloca em nós rosas perfumadas, bonitas e viçosas, flores das mais variadas espécies, aromas e perfumes que alegram e agradam o Seu coração. Somos novas criaturas, somos transformados e  enviados como luz no meio de trevas, sal no meio de um mundo deteriorado. Contudo, a ordem é para que cuidemos do jardim. "E tomou o SENHOR Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar." (Gn 2:15); "Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor;" (Rm 12:11). Plantar foi obra do Senhor; cuidar desse jardim é a nossa responsabilidade.

Há coisas que só Deus é capaz de fazer, e as faz, quando é Sua vontade.  Outras, contudo, Ele nos ordena fazer, e não adianta lançar sobre Ele a responsabilidade por realizar aquilo que nos está designado. Recordo-me de Paulo, a dizer ao seu discípulo Timóteo: "Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá." (1Tm 4:13). (Alguns há, hoje em dia, que querem que Deus estude por eles...) 
 
Lembrei-me também de Lázaro, o ressuscitado. Chamá-lo de volta à vida foi a tarefa de Jesus: "E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora." (Jo 11:43); porém, tirar a pedra e, depois, tirar suas faixas mortuárias, foi tarefa dos homens: "Disse Jesus: Tirai a pedra..." (Jo 11:39a);" ... Disse-lhes Jesus: "Desatai-o, e deixai-o ir. (Jo 11:44b)  . Assim também devemos a nossa salvação à graça e ao amor do Senhor. Não poderíamos salvar-nos. Deus fez isto por nós, enviando Seu Filho unigênito como sacrifício expiatório. Bendito seja Deus por tão grande salvação! " Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." (Ef 2:8). Porém, zelar de nossa vida, como a lavrar nosso jardim, é a nossa tarefa. Se não o fizermos, o mato invadirá, e Deus não impedirá.
 
De onde vem esse mato? Afinal, não plantamos mato, plantamos flores! O mato pode ter aparecido no meio do estrume que adubou a terra, ou ter sido trazido pelos pássaros, ou ter qualquer outra origem. Mas que ele surge, ah, isso surge! Que o digam os lavradores de plantão, caso não capinem suas lavouras! Quem não arranca o mato que nasce o tempo todo, ao invés de colher o que plantou, colherá palha às  pampas!
 
Imaginei que em meu jardim mal-cuidado quatro tipos de mato tivessem crescido, similares àqueles que crescem na vida de todo cristão que não vigia, não ora, não observa os princípios do Senhor, que vive na carne, e dela a colher corrupção e amortecimento.
 
1o. MATO: DESCONTROLE FINANCEIRO
 
Diz a Bíblia: "A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei." (Rm 13:8). Quem se endivida dá mau testemunho, além de tornar-se escravo de seus credores. Há pessoas que devem porque emprestaram seu nome para amigos e parentes, que lhes prometeram pagar corretamente, e hoje arcam com todas as conseqüências. Tornaram-se fiadores. "Não estejas entre os que se comprometem, e entre os que ficam por fiadores de dívidas,"(Pv 22:26) ; "O homem falto de entendimento compromete-se, ficando por fiador na presença do seu amigo." (Pv 17:18).
Há alguns que vivem pendurados nos cartões de crédito,  no cheque especial, nos cheques devolvidos, nos financiamentos a curto e médio prazo, e, por não administrarem bem ou por um desastre financeiro súbito, ficaram obrigados a pagar juros que, não raras vezes, são superiores ao que entregariam ao Senhor como dízimo. Contra o dízimo e ofertas fazem severas asseverações, mas contra os juros altíssimos que pagam, não reclamam. Aliás, já nem conseguem pagar, e têm seus nomes em toda a lista do comércio como maus pagadores. Que vergonha! Vivem de cheque especial e de financiamentos múltiplos, e às vezes socorrem-se de agiotas.
 
Esse é o MATO DO DESCONTROLE FINANCEIRO. Deus nunca desejou aos seus filhos esse tipo de vida. E não adianta reclamar depois, dizendo: "Ah, Deus, que provação! Por que permites? O Diabo está atacando a minha vida!" O Diabo? Não, o Diabo está é agradecido pelo serviço voluntário! Não é o Diabo, e nem provação de Deus; é a conseqüência da imprudência, de quem se propõe a construir um castelo e não tem com que terminá-lo. Diz o Apóstolo Paulo: "Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes." (1Tm 6:8). Por que tivemos que comprar aquela máquina que não nos servirá de nada? Por que adquirir algo tão caro, quando algo mais barato serviria igualmente? O consumismo desenfreado se chama PECADO, e leva à falência. Geralmente, depois de consumir, desinteressamo-nos do produto, e já saímos à caça de outro objeto. Que escravidão! Somos chamados a não dever nada, nem uma agulha, nem uma moeda, a ninguém. Somente o amor, esse sim, é nossa dívida.
 
2o. MATO - RESSENTIMENTO
 
Ah, que mato terrível esse, o dos sentimentos feridos! "Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem." (Hb 12:15) ; "Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas dentre vós", (Ef 4:31).

Lembro-me, lá na roça, quando as vacas, à tarde, pastavam tranqüilas perto da casa de minha tia "Bastiana". Elas não comiam nada naquela hora, mas estavam a mastigar sem parar. Era a ruminação: vomitavam o que comeram de manhã, e re-mastigavam inúmeras vezes. Ressentimento é isso: é sentir novamente a dor, a ofensa, a tristeza, a injustiça, o mal-feito, etc. E sempre nos achamos certos, justos, sempre temos toda a razão para nos sentirmos assim. Somos os injustiçados. Só existe um problema: somos injustos também, desmerecedores da graça. Se Deus nos tratasse como merecemos, ou como gostaríamos que os nossos algozes fossem tratados, já há muito seríamos cinzas ao vento. Mas  Assim como "As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim;" (Lm 3:22), assim também devemos ser misericordiosos com quem de nós não merece muita coisa. Assim como Cristo nos perdoou, nós também devemos perdoar. E todas as vezes que nos lembrarmos do que fizeram contra nós, também nos lembraremos que já os perdoamos no amor de Cristo.
 
Perdão cura ressentimento. Perdão cura o ódio. E perdão cura a própria pessoa, que pensa estar punindo aquele de quem mantém o ódio e o ressentimento. Engana-se, pois a grande prejudicada é a própria pessoa, cujo sangue e humor estão contaminados de mágoa, provocando toda sorte de doenças psicossomáticas. Quando perdoamos, somos perdoados, e muitas enfermidades conseqüentes são curadas também. Glória a Deus por isto!
 
3o. MATO - IMORALIDADE
 
O terceiro mato é o MATO DA IMORALIDADE. Moralidade, ética, decência, dignidade, honestidade, honradez, polidez, tudo o que se pode encaixar num tema tão amplo, é o que esse mato tem destruído. Infelizmente a história cristã está repleta de pastores a dar maus exemplos, e os nossos dias têm sido pródigos nesse afã. Pastores que fogem com as secretárias da igreja, ou que são flagrados em relações homossexuais com adolescentes; membros que mantém vida dupla e casos com amantes; igrejas que vendem materiais contrabandeados em nome da ação social; namorados que "adiantam as carroças na frente dos cavalos", pelo simples fato de que "se um dia seremos um do outro, por que esperar?"; crentes que não honram suas famílias e igrejas, igrejas que exploram seus obreiros e os demitem como se fossem a escória do mundo, etc.
 
Eu penso na juventude evangélica, a contemplar apóstolos que negam um crime e, à seguir, fazem acordos, confessando o que não fizeram, para safar-se de penalidades maiores. Penso em presidentes de convenções que traem suas famílias, ministros de música que levam vida dupla, pregadores de um sermão só, que condenam a prostituição e vivem a prostituir-se em secreto. É o Evangelho da Porta Larga! Vejo pastores expulsos de suas igrejas porque adulteraram, não se arrependeram, e levaram um grupo fiel, que dá continuidade ao seu ministério. Meu Deus, que mundo é esse? Mas se eu não cuidar do meu jardim, o mato da imoralidade virá destruir minha vida também, porque também sou pecador. "Aquele, pois, que cuida estar em pé, cuidado para não cair."  (1Co 10:12) Devo vigiar, devo tomar cuidado, devo arrancar o mal pela raiz, logo no começo. "Abstende-vos de toda a aparência do mal. " (1Ts 5:22) ; "Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo." (1Co 6:18); "Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo. " (1Pe 1:15, 16)
 
4o. MATO - FRAQUEZA ESPIRITUAL

O quarto mato, o MATO DA FRAQUEZA ESPIRITUAL, é o pior de todos. Porém, se os três primeiros forem tratados, ele não terá mais forças para sobreviver, e cairá de maduro, destruído. Esse mato faz com que o crente não tenha mais comunhão nem com Deus e nem com os irmãos em Cristo; faz com que não sinta mais a presença de Deus; tira sua força e autoridade contra as tentações; transforma-o num fracassado em tudo o que faz; descaracteriza a beleza de Cristo em seu viver. "Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus." (Rm 8:8); "Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?" (Gl 3:3); "Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna." (Gl 6:8)
 
Para superar essa fraqueza, muitos irmãos, ao invés de arrancarem esse mato pela raiz, usam de paliativos que nada resolvem, como a freqüência a "louvores exóticos", a cultos frenéticos, com práticas emocionais extremas, na geração de experiências avassaladoras, buscando uma "nova unção", como se a "velha" tivesse perdido seu prazo de validade. Na verdade, a unção de Deus nunca perde a eficácia, e chega às raias da blasfêmia a constante busca de novas; é como se disséssemos a Deus que Sua graça não tem sido de grande duração. Cautela, irmãos! Nós é que a abandonamos a consagração. Até o chamado "primeiro amor", citado em Apocalipse, não foi "perdido", mas "abandonado": "Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor." (Ap 2:4) 
 
Poder espiritual, tenha o nome que tiver,  se obtém através de uma vida onde haja SANTIDADE MORAL, SANTIDADE FINANCEIRA e SANTIDADE EMOCIONAL. Sem isso, tudo é palha e mera ilusão, e o MATO DA FRAQUEZA ESPIRITUAL cobrirá de palha, lixo, galhos infrutíferos e sujeira a nossa vida efêmera. "E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra." (2Cr 7:14)
Queira Deus que nós, com a graça de Jesus, e no poder do Espírito Santo, cuidemos do jardim que Ele plantou em nós, e não deixemos o mato tomar conta, e combatamos dia após dia os matos indesejados do descontrole financeiro, do ressentimento e da imoralidade, para que também o mato espiritual seja destruído, e sejamos como o Jardim do Édem em nossos corações! "E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam. " (Is 58:11)
Que Deus nos abençoe.
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP

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