Vivemos um tempo profundamente marcado por mudanças radicais, aceleradas e sem mais qualquer controle... E essas mudanças não são específicas de setores isolados; são globalizadas, indiferentes aos gêneros e espécies de grupos, classes ou instituições. Vivenciamos o chamado "rolo compressor" do progresso (?) e da modernidade (?). A espiritualidade humana foi também frontalmente afetada por essas mudanças. Vivemos hoje como clientes dentro de um grande supermercado religioso, onde as pessoas podem escolher livremente seus produtos e consumi-los sem restrições, sem receios, sem pudores, porque todos são de primeira linha, no mais pernicioso conceito do marketing espiritual.
O supermercado está todo sinalizado. Os cartazes, os folders, as placas, os outdoors, não nos deixam esquecer que precisamos consumir... O grande barato deste mercado é a fé. Todos estão consumindo porque tudo é muito bem embalado, muito bem elaborado, de maneira que ninguém fique de fora. Tudo está divinamente exposto para. que haja apetite incessante... e vale qualquer mistura, qualquer experiência pessoal.
Os apetites espirituais são vorazes entre crianças, adolescentes, jovens e adultos. O mais impressionante é que o livro de receitas é o mesmo para todos:
a Bíblia. Ela continua sendo o manual para todos. Não importam as interpretações que são feitas e tampouco os resultados obtidos: tudo é saudável para todos... É uma pena! Todos estão ficando obesos e deformados espiritualmente, mas ninguém parece notar, afinal de contas o que importa é a experiência de estar no contexto do tempo. Cada um propõe a sua própria filosofia de vida, ou ainda, a sua própria teologia de vida. Os ensinos dos primeiros discípulos já não são bastante, estão muito distantes no tempo. Os ensinos de Jesus precisaram passar por reformas para se adequarem ao novo mercado.
Agora, nós temos os consumidores que sobem o monte, pois as práticas da fé, no vale, não têm os mesmos efeitos; os consumidores da fé musical, porque a fé contemplativa está démodé; os consumidores nômades, que não precisam mais de identidade; os consumidores ecumênicos, que crêem que todos os caminhos levam a Deus; os consumidores da prosperidade, que não se conformam com a pobreza de Jesus; os consumidores light, que transitam por todas as mesas sem nenhum compromisso com as dietas ou com as bulas; os consumidores compulsivos, que provam todas as guloseimas espirituais sem preocupação com as mazelas e desvios de nutrição; os consumidores indiferentes, que degustam tanto a feijoada como o mais leve mingau espiritual... Enfim, todos estamos mergulhados neste mar de mudanças de postura religiosa, de caráter cristão, de conteúdo da nossa fé.
São muitos os apetites espirituais em virtude do enorme cardápio existente no mercado. No entanto, duas mensagens importantes de Jesus precisam ser lembradas agora: "Não só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus' (Mt 4.4), associada a: "Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus' (Mt 7.21). Que Deus tenha misericórdia de todos nós!
Pr. Raul Marques - PIB de Sousa (PB)
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