A música relata as viagens do boiadeiro ao passar pela Estrada de Ouro Fino. Lá estava o menino que abria e fechava a porteira, e pedia ao boiadeiro que tocasse o berrante para lhe agradar os ouvidos.
Um dia esse menino foi morto por um "boi sem coração", assim relata o poeta sertanejo.
Doía no peito do boiadeiro a saudade do menino, que era zeloso no seu trabalho de vigiar e controlar a porteira.
Eu também sinto muita saudade dos "homens da porteira" do passado. Eles não precisavam saber grego ou hebraico para formular sua teologia. Usavam apenas a verdadeira fé e davam liberdade para a ação do Espírito Santo.
Na simplicidade desenvolviam a fé, e eram respeitados pela sua ousadia e conhecimento bíblico, mesmo não tendo um diploma de seminário.
Nunca descuidavam da porteira, pois não era qualquer doutrina que passava, nada que pudesse comprometer o verdadeiro Evangelho de Cristo. "Os bereanos eram mais nobres do que os tessaIonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo (At 17.11).
Conheci um desses homens bem de perto. Foi alcançado pela graça de Deus na década de 40. Leitura? Muito pouca, o suficiente para ler compassadamente as Escrituras.
Um dia, antes de sua conversão, apareceu alguém querendo "convertê-lo" a guardar o sábado. Depois de dispensar o homem do sábado, ele virou para sua esposa e disse: "Mulher, isso não bate com os ensinamentos de Jesus". Depois, veio outro ensinando um batismo sem mergulho. A reação dele foi a mesma, não aceitou.
Esse senhor representa inúmeros "homens da porteira", que plantaram a semente do Evangelho por esse Brasil afora, e não cansaram de fundar igrejas; e mesmo debaixo de perseguições, jamais descuidaram da porteira.
Cantavam seus hinos derramando lágrimas, compungidos pela presença notória do Espírito Santo. Patriarcas de famílias, que até hoje são exemplos a serem seguidos.
Não havia a menor chance de se abrir a porteira para separações, divórcios ou desobediência dos filhos. Seus lares não pertenciam a eles, eram do Senhor, e por isso intocáveis. A porteira estava bem fechada e não havia "boi bravo" que eles não enfrentassem na defesa da Sã Doutrina. "Mas Pedro e João responderam: "Julguem os senhores mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer aos senhores e não a Deus. Pois não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos" (At 4.19-20).
Que saudade desses homens da porteira!
Infelizmente, eles estão envelhecidos e doentes, e alguns já partiram, olham com tristeza a porteira escancarada, sem que haja quem se disponha a enfrentar o boi bravo do liberalismo, do intelectualismo seletivo, do modismo, do secularismo e de tantos "ismos" dos nossos dias. O menino da porteira morreu, pagou o preço no esforço de manter a porteira fechada.
Os homens da porteira do passado fizeram o mesmo.
E nós?
Fugimos dos bois bravos, que na realidade não passam de bezerrinhos, que amedrontam os covardes; inimigos que seriam facilmente derrotados, se fôssemos como os "homens da porteira" do passado.
Pr. Antonio Mendes - PIB de Atibaia (SP)
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